Em janeiro de 2019 ocorreu o rompimento da barragem do complexo do
córrego do Feijão em Brumadinho. O derramamento dos rejeitos
ampliou a quantidade de vítimas humanas de 19, no caso de Mariana,
para 217 mortos e 87 desaparecidos. A abrangência do rompimento
ainda está em discussão, tendo em vista a chegada dos rejeitos na
Bacia do rio São Francisco.
Quantificar desastres com as proporções de Mariana e Brumadinho envolve uma
gama de áreas de conhecimento e a necessidade de colhermos
experiências de outros países para propor soluções.
No município de Ranchi, Estado de Jharkhand, leste da India, aconteceu
em 2010 um acidente muito similar aos que ocorreram em Minas Gerais
nos anos de 2015 e 2019. Os pesquisadores identificaram que
quando uma pequena quantidade de adubo orgânico solúvel penetra no
solo, através de macro poros, serve como um alimento para os
microrganismos. O mineral gipsita, por exemplo, é um sulfato de
cálcio hidratado que é usado para melhorar determinadas
propriedades fisioquímicas de solos problemáticos (Chauhan &
Ganguly, 2011).
No caso de Brumadinho, bem mais simples em comparação com Mariana do
ponto de vista econômico-ambiental, a técnica conhecida como
adubação nas covas parece ser, pelo menos em boa parte da área
atingida, a mais adequada para o replantio de espécies vegetais
nativas nos solos arenosos recobertos por rejeito de mineração. A
ideia é espalhar o adubo orgânico, húmus, na superfície e afofar
delicadamente a terra, sem necessidade de cavar, adicionando-o
diretamente nas covas das plantas.
No que diz respeito a adubação, além das quantidades de adubos
nitrogenados (azotados) que devem ser usados, há duas questões mais
que considerar: quando e como distribui-los. A época de aplicação
desses fertilizantes varia com as culturas e com o clima –
principalmente com a distribuição das chuvas. Os princípios que
governam a distribuição são, entretanto, sempre os mesmos: deve-se
aplicar o adubo nitrogenado quando a cultura tem necessidade de azoto
e quando possui raízes já bem desenvolvidas; outro cuidado, o solo
não deve estar demasiadamente seco e nem muito encharcado.
A interpretação da aptidão agrícola dos solos foi desenvolvida para
dois sistemas de manejo: o pouco desenvolvido e o desenvolvido (sem
irrigação), ambos referidos a produção de culturas temporárias e
permanentes.
Os fatores limitantes que devem ser empregados para distinguir os dois
sistemas são: a. nível de investimento de capital. b) conhecimento
técnico-operacional c) tipo predominante de tração e implementos
agrícolas d) limitações impostas pelas condições do solo,
determinadas em termos de grau de limitação.
As culturas permanentes geralmente protegem melhor o solo contra a
erosão, devido ao menor revolvimento do solo.
A classe de aptidão do solo é definida em termos de graus de
limitações para uso geral da agricultura, incluindo tanto culturas
temporárias como permanentes. A partir da visita de campo foi
detectado que o solo do Córrego do Feijão, em Brumadinho, tem
classe de aptidão regular, isto é, as condições do solo
apresentam limitações moderadas para produção sustentada de um
grande número de culturas climaticamente adaptadas. Boas produções
podem ser obtidas, mas a opção de culturas, a manutenção das
produções e a seleção das práticas de manejo estão restritas a
uma ou mais limitações, que não podem ser removidas ou que só o
podem parcialmente.
Segundo a Embrapa (2005), os adubos orgânicos na cova, além de fornecerem
nutrientes para a planta, favorecem a atividade microbiológica e
melhoram a capacidade de retenção de água pelo solo, condições
que podem beneficiar o estabelecimento e desenvolvimento do sistema
radicular. Contudo, é importante ter o cuidado de utilizar fontes
bem "curtidas" para que a fermentação da mesmas não
causem danos à muda, dificultando assim a "pega". Pode-se
aplicar, por cova, de 10 a 20 litros de esterco de bovinos ou 5 a 10
litros de esterco de aves ou ainda 1 a 2 litros de torta de mamona.
Juntamente com o adubo orgânico adicionar até 200 g de superfosfato
simples, se houver recomendação de adubação fosfatada para o
pomar. As quantidades desses fertilizantes orgânicos recomendadas
por planta adulta estão em torno de 20 a 60 litros, equivalentes a
20 a 60 kg de N, 12 a 36 kg de P2O5 e 20 a 60 kg de K2O por hectare,
ou seja, metade das doses recomendadas desses nutrientes (EMBRAPA,
2005).
Em plantio a ser instalado, o correto é aplicar o nitrogênio orgânico
na cova ou o mineral após o "pega" da muda. Em plantios em
formação ou produção deve ser aplicado duas vezes ao ano, nos
meses de março e agosto, ou no início e próximo ao fim das chuvas,
em cobertura, na projeção da copa ou na entrelinha, fazendo
posteriormente uma gradagem superficial para incorporação. Com
relação ao fósforo, em plantio a ser instalado, aplicar até 200g
de superfosfato simples na cova. Havendo recomendação de maior
dose, o restante deverá ser aplicado em cobertura, após a "pega"
da muda. Em pomar em formação ou produção, aplicar todo o fósforo
em cobertura no mês de março ou início das chuvas, na projeção
da copa ou na entrelinha, juntamente com o nitrogênio e/ou potássio.
Com relação ao potássio, em plantio a ser instalado, aplicar
metade da dose recomendada, em cobertura, após a "pega" da
muda, e o restante quatro meses após essa aplicação. Nos pomares
em formação ou produção, aplicar metade da dose recomendada, em
cobertura, após a "pega" da muda, e o restante quatro
meses após essa aplicação. Nos pomares em formação ou produção,
aplicar metade da dose em março e metade em agosto, ou no início e
próximo ao fim das chuvas, juntamente com as doses de nitrogênio.
Não é aconselhável usar potássio nos três primeiros anos de vida
do pomar, quando o seu teor no solo for superior a 20 ppm (EMBRAPA,
2005).
De acordo com Vieira, Ramalho e Chagas (1982), o cultivo associado de
milho com feijão é prática muito usada em Minas Gerais. Em algumas
áreas, esse consorcio é feito apensas nas aguas, ou seja, ambas as
culturas são plantadas simultaneamente no início da estação
chuvosa. Noutros locais, o feijão é semeado no meio do milho na
“seca”, isto é, em fins de fevereiro ou em março, quando esta
cultura começa a secar. Noutras áreas, como a Zona da Mata, é
comum o milho receber duas culturas de feijão: das “aguas” e da
“seca”. Ultimamente a UFV, a ESAL, o CNPMS e a EPAMIG tem
conduzido diversos estudos sobre o cultivo consorciado de milho com
feijão, porquanto é necessário pesquisa-lo em profundidade, para
possibilitar a orientação de pequenos agricultores – os
principais beneficiários do processo – quanto ao modo mais
vantajoso de conduzi-lo. Os estudo já levantado a efeito no Estado
permitiram mostrar o seguinte: (a) com as populações de feijoeiros
normalmente utilizadas, essa cultura não concorre com a do milho.
(b) na época das aguas, podem-se plantar até 120-160 mil feijoeiros
por hectare, densidades maiores que as normalmente utilizadas pelos
agricultores, sem prejuízo para o milho. (c) quanto menor a
população de plantas de milho, maior a produção de feijão
consorciado. (d) há diferenças entre as variedades de feijão
quanto a adaptabilidade ao consorcio (e) os feijoeiros trepadores
somente devem ser utilizados no plantio da seca, quando os pés de
milho, já plenamente desenvolvidos servem-lhes de tutores.
Contudo, outras técnicas serão discutidas neste portal.
O Plano de Recuperação econômico-ambiental para Brumadinho deve incluir
assistência técnica para as famílias avançarem do cultivo de
hortas para agricultura irrigada, em particular as culturas de milho
e feijão.