Em
Mariana, o diagnóstico preliminar produzido pela Embrapa Solos,
Milho e Sorgo em parceria com a EMATER estimou uma área de 1.430 ha
de solos recobertos pela lama de mineração. No caso de Brumadinho a
área atingida foi de 269 ha com maior ou menor espessura de
recobrimento em função da proximidade da barragem. Destaca-se que
parte desta região atingida é de Áreas de Preservação Permanente
(APPs Fluviais) que deverão ser obrigatoriamente recuperadas e
preservadas, independente do seu anterior ou atual, de acordo com o
Código Florestal vigente.
Há
uma clara falta de conhecimento do ponto de vista biológico de quais
são os impactos: da amplitude e das consequências dos desastres na
biodiversidade e no funcionamento dos ecossistemas. Certo que ocorreu
alteração da estrutura físico-química do solo devido à perda das
características geomorfológicas: devido à possível menor
granulometria do rejeito depositado sobre o solo, há a possibilidade
de que eles tenham se misturado aos solos arenosos, ocupando
macroporos, alterando, portanto, as suas características
físico-hídricas.
Importante
notar que solos arenosos e com menor teor de matéria orgânica têm
menor capacidade de armazenar água do que solos argilosos e/ou com
maiores teores de matéria orgânica.
A
regeneração ambiental impacta a provisão de ecossistêmicos da
escala global para as escalas locais (Foley et al.2007), mantem
quantidades elevadas de carbono que ajudam a mitigar as alterações
climáticas (Finegan et al. 2015, Gilroyet al. 2014) e, ao mesmo
tempo, ajuda a estabilizar o solo, evitando perda de sedimentos e
melhorando a qualidade da água (Ditt et al. 2010). Além disso, a
regeneração igualmente pode fornecer apropriados habitats para
diversas espécies, e aumentar a conectividade delas na paisagem
(Chazdon et al. 2009).
A
base ecológica para o uso de plantações para recuperação de
terras tropicais danificadas foi descrita por muitos autores (Lugo et
al., 1993; Lugo e Daniels, 1994; Parrotta, 1992; Rao e Tarafdar,
1998; Rao e Tak, 2002; Sharma et al., 2004; Pandey, 2002; Pandey et
al., 2005).
Atualmente,
existem soluções economicamente viáveis e ambientalmente
aceitáveis para a utilização efetiva dos altos volumes de resíduos
de lama vermelha que são produzidos por empresas de exploração de
minérios (Chauhan e Ganguly, 2011).
Bolsanello
(1975) apresentou onze ensaios, sendo cinco de adubação NP
(Nitrogênio e fosforo) e seis de competição entre variedades de
feijão, nos seguintes municípios da Zona Metalúrgica de Minas
Gerais: Florestas, Itaúna, Para de Minas e Divinópolis. Foram
utilizadas adubação básica, nas formas de sulfato de amônio,
superfosfato simples e cloreto de potássio. Todos os ensaios de
adubação apresentaram resposta positiva a aplicação de sulfato de
amônio e superfosfato simples.
Com
certeza os benefícios da recuperação ambiental (serviços
ambientais, mitigação das mudanças climáticas, retenção de
sedimentos, conservação da biodiversidade, novos nichos de mercado)
são maiores que as barreiras (competição pelo uso da terra, custo
da restauração, perda da resiliência), mesmo que haja uma séria
limitação para a produtividade das culturas devido ao incremento
acentuado da resistência do solo, sob condições do rejeito de
mineração originado de um histórico de garimpo de ouro, como em
Mariana, caso sob responsabilidade da Fundação Renova.
Lembramos
que no caso de Mariana já existem planos de recuperação ambiental
e de retomada econômica previstos no Termo de Transação e de
Ajustamento de Conduta -TTAC e em desenvolvimento com o financiamento
da Fundação Renova, que não vai atuar em Brumadinho, visto a
decisão de focar nos atingidos da bacia do Rio Doce. Mesmo assim não
está conseguindo cumprir integralmente o TTAC.
O
Plano de Reflorestamento deve traçar diretrizes para a proteção
ambiental no que diz respeito à recuperação da cobertura vegetal,
especialmente nas áreas de proteção de mananciais e margens de
cursos d’água. O plano deve levar em conta o rebatimento
territorial destas proposições, incluindo questões referentes a
regulamentação do uso do solo e a ordenação do território, bem
como a natureza interdisciplinar das ações necessárias a sua
implementação, considerando a necessidade de articulação entre os
distintos setores e níveis de governo.